CINZA
Para Jorge Tufic (1930-2018)
Terminei esta manhã
de quarta-feira de cinzas
como a natureza do tempo
apresenta-se agora.
O vento espalha-se frio
é chuva que vem
dizer
que a saudade é
um murmurar melancólico.
Deus começa a chorar, Tufic!
Depois do reinado festivo
do momo
gota a gota, fico a relembrar
os seus versos a uísque
doze anos.
Guardanapos, pássaros, retratos,
noites, varandas, fraturas do Líbano...
Seu ócio secreto!
Os espantos amazônicos!
Vou lendo a tarde extrema
da sua floresta interior
e o coração hermético
dos seus mistérios,
a memória não espera.
A vida ainda é dor,
onde deuses abrigam
lágrimas e lembranças.
Velho amigo boêmio,
Jorge Tufic – derradeiro
Poeta de antanho –
na ressaca deste
e de outros milhentos
silêncios.
Parnaíba, costa do Piauí,
14 de fevereiro de 2018.
Poema extraídos do livro "Rosa numinosa" (2022), de Diego Mendes Sousa.
Lindo poema. Dolorido como deve ser uma homenagem dessa natureza. Tufic, meu irmão e que vindo a Minas me visitava, ficaria feliz ao ler esse maravilha.
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