quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

COTIDIANO E SENTIMENTO POÉTICO 2

Translado, rotina, jogo e clarividência, toda poesia é
social. Incursor e praticante de seu cotidiano, o poeta, este cidadão libérrimo, se toca e se arrasa em traumas silentes, envolto na fugacidade de uma existência criadora, mas vítima, ao mesmo tempo, das grandes e pequenas tragédias que montam a perspectiva e o absurdo do mundo contemporâneo. A sensibilidade moral e a condição humana, norteiam seus passos. Lírico ou épico, seu discurso traduz a lasca viva do torvelinho, da mudança e da transformação. Sua linguagem opera em todos os níveis, pois a linguagem poética está a uma linha quase invisível daquilo que se denota. É a linha imaginária que une os contrários diante da reflexão de um minuto, apenas. Este leve tecido humaniza e dá um sentido às coisas. Este sentido é poesia.
Publica o Suplemento Literário de Minas Gerais, em seu nº 1103, que Mário Quintana evita os entrevistadores, "chatos perguntativos", na sua opinião, para driblar perguntas e assuntos poéticos. Ele prefere conversar amenidades, ou coisas do cotidiano. Quintana, tido como o mais puro dos poetas, tira de suas passadas habituais pela cidade de Porto Alegre, a cor, o som, a palavra e o neologismo bem à maneira de seus poemas instantâneos, até de suas vírgulas. Ao contrário de certos colegas de ofício, que de tanto se confinarem em suas bibliotecas mais parecem livros do que gente, esse poeta gaúcho, estando agora numa fase de releitura do quanto lera e vivera em toda sua vida, é, portanto, na vida e no mundo que ele busca alimento para escrever. Seu coloquialismo retoca o Inferno de Dante... (1988)
Filósofos, cientistas e tecnocratas, ao cabo e ao fim de suas lucubrações, deparam com a verdade na poesia. Todas as aparências e projeções de fenômenos naturais ou mecânicos, apesar de infletirem qualidades variadas, dependendo do ângulo, da visão e do sentimento que observa, nunca se repetem. A luz do sol, o reflexo das águas e tantas outras "descargas" e toques subliminares, povoam nossos dias. A noite apanha estes sonhos, e navega com eles. Como seja a posição de cada um, nós tomamos desses objetos a imagem real ou a imagem ideal. Esse gesto comum, aliado a uma "estória" ou mesmo aos temas de nossa intimidade doméstica, se exprime por várias outras imagens e metáforas que às vezes se combinam de modo inconsciente. Essa imagem
ideal, que já existia, por exemplo, no projeto e no sonho do artista antes da imagem real, é um dos componentes do nosso cotidiano. Associada ao convívio afetivo, ela vai enriquecendo e aprofundando as demais vivências que tivemos nas idas e vindas em que tantos outros fatores - como o vento e as chuvas - tiveram sua parte.

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