quinta-feira, 6 de outubro de 2016

ROMANCE DO CASARÃO (JORGE TUFIC)

ROMANCE DO CASARÃO (JORGE TUFIC)



ROMANCE DO CASARÃO (JORGE TUFIC)
Terá dormido o operário
cujos pés calcaram notas
de alguma valsa perdida?
E os persistentes fantasmas
que moram nas dobradiças,
quantas pragas não rogaram?
De tudo oca, no entanto,
a foto já esmaecida
de um rosto branco, insepulto.
Perfil de brumas, rosal
de sonhos que se andaram.
Mãos que ainda tocam nos fusos
e ossadas em dispersão;
estes soluços discretos
ouvidos por trás da queda
do perempto casarão.

sábado, 1 de outubro de 2016

ALMAS DAS RUAS, AVULSOS CAMINHANTES

Almas da rua, avulsos caminhantes,
marginados, solenes — quantas frases
ruminaram sem eco: aqui estão eles
diante de mim fantásticos, lilases.
Beleleco, João Anta, Marinheiro
e outros que um dia isentos projetaram
sombras, tímidas sombras fugidias,
como tenham surgido, definharam.
Juncos, cachimbos, vestes remendadas
que restara de vós, semblantes duros,
brandos e bons com as trêfegas crianças.
Que o Museu dos Anônimos conserve
nalgum lugar a imagem que ainda faço
dos náufragos da vida e seu fracasso.