quinta-feira, 27 de novembro de 2014

INSIGHT



INSIGHT


Audíveis silêncios
podem estar vindo das rochas
ou dos cristais que fizeram
os primeiros gritos do vento.
Enredados no branco das pétalas
que ardem no aroma dos jasmineiros,
são estes também os silêncios
ainda não revelados.
A menos quando passam
pelos filtros lilases do sangue
que nos tinge a palavra.




sábado, 22 de novembro de 2014

Os momentos supremos

Os momentos supremos
Jorge Tufic
Nós somos definitivamente autores, consagrados ou não, de uma única obra. Não era sem razão, portanto, que os nossos bisonhos predecessores achavam que Aníbal Teófilo, autor de A Cegonha, já podia morrer depois deste soneto. Fato semelhante acontecera a Júlio Salusse, autor de um outro artefato poético do gênero, intitulado Os Cisnes. E o que seria A Comédia Humana, de Balzac, senão uma grande obra reunindo, numa única saga romanesca, toda a produção literária do famoso estilista de Chat-qui-pelote?

Rebrota o comentário a propósito, inclusive, daqueles outros, ficcionistas ou não, a quem faltara espaço e tempo necessários para a conclusão de seu projeto referente à literatura, nenhum deles tendo deixado uma prova, sequer, do talento que demonstravam como teóricos da arte que daria a um Júlio Dantas a versatilidade bem própria de sua época, nada ficando o cronista a dever ao fino teatrólogo de A Ceia dos Cardeais.

O Clube da Madrugada [CM], em Manaus, foi, a nosso ver, a mais eclética forja cultural inspirada pelas mais variadas tendências, com o maior número possível de intelectuais e poetas capazes de se estrear na literatura, como poucos o fizeram. Mas o CM não era só de literatura. Nas artes plásticas tivemos um Afrânio Castro, também poeta, falecido prematuramente antes de publicado. Hanneman Bacelar, muito mais novo que Afrânio, teria a má sorte de vergar ao peso cósmico dos "trópicos tristes", cometendo suicídio. A galáxia madrugada, enfraquecida agora pela dispersão voluntária dos seus componentes, vai-se deste modo resumir-se naqueles raros que ainda restam de um encontro "histórico" de que jamais se tivera notícia.

Algumas outras personagens desse tempo, naquela obscura capital amazonense dos anos 50, teriam ficado também na memória de seus contemporâneos, não exatamente pela autoria de um romance, de
um conto, a exemplo de A Porta-Estandarte, de Aníbal Machado, ou de um soneto-estalo, como podemos ainda mencionar Augusto dos Anjos, com Vandalismo ou Raul de Leoni, com Eugenia, mas, a rigor, no que elas foram dentro do real desempenho cotidiano de suas próprias vidas.

Temos, assim, as figuras lendárias de José Trindade, um dos fundadores do Clube, e a do filósofo Malaquias, de quem já tratamos numa crônica do Tio José (1975). Deixaram, quanto muito, a fama de seus atos públicos notoriamente rebeldes, e frases como esta do pensador da Praça do Ginásio: a senectude é como o sol do entardecer: ilumina, mas não aquece. Ou esta: não me façam vomitar dizendo "meus sonhos". Ninguém é proprietário de sonhos.
O Dr. José Trindade foi mais longe, materializando no ato físico a ideia do fantástico. Na qualidade de auditor de guerra da Polícia Militar do Estado, envergara ele, num certo princípio de noite, a luxuosa farda nobre da Corporação, com espada e tudo, indo sentar-se a uma das mesas do Bar Moderno, ao lado do Cine Polyteama. E ali, erguendo-se apenas para ir ao banheiro, tomou o porre federal mais célebre da província.

Malaquias, não tendo residência fixa, acabou por escolher o toldo de uma lancha-motor, no qual passara a dormir. Ninguém mais soube dele. José Trindade, destituído do cargo de auditor, foi tentar a sorte em Vitória do Espírito Santo, e, quanto a nós, nunca mais tivemos notícias do amigo.

domingo, 16 de novembro de 2014

SERMÃO DO OCO


SERMÃO DO OCO


Antes que o atol cósmico
me roa a medula espectral,
deixai-me ver, Senhor,
os pobres do mundo inteiro
libarem este vinho que libo
morder esta fruta que mordo,
tudo isto, Senhor,
sem precisarem do fogo terrestre
nem do pasto afogado
nas raízes da aurora.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

FRAGMENTO

FRAGMENTO

FRAGMENTO
À tarde e à noite
o poeta está ausente.
Relógio e calendário
marcaram do avesso.
Ele usa a freqüência dos búzios
e capta as notícias que envelheceram
antes da letra e do chumbo.
Percebe, então, que falta um elo
para cada coisa.
Possivelmente indecifrável.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

TUFIC RECEBE COMENDA DE MÉRITO CULTURAL NO ACRE



CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA DO ACRE CONCEDE COMENDA DE MÉRITO CULTURAL A QUATRO PERSONALIDADES DA CULTURA ACREANA

O Conselho Estadual de Cultura, no próximo dia 05 de novembro, quarta-feira, Dia Nacional da Cultura, confere comendas de Mérito Cultural, em memória e em vida, a quatro personalidades da cultura acreana. Este ano serão brindados “Em Memória” o cientista e escritor tarauacaense Djalma da Cunha Batista e o escritor e jornalista João Mariano da Silva. Na categoria “Em Vida” será agraciado o Padre italiano André Ficarelli, há anos radicado e prestando serviços inestimáveis ao Acre; o outro agraciado é o poeta senamadureirense Jorge Tufic, com trabalhos reconhecidos dentro e fora do país. A cerimônia de premiação ocorrerá no átrio de entrada do Teatro Plácido de Castro, em Rio Branco, na Av. Getúlio Vargas, nesta quarta-feira DIA 05 DE NOVEMBRO, dia da Cultura, às 18h30min. (Com informações repassadas por Clodomir Monteiro, do Conselho Estadual de Cultura)


BREVE HISTÓRICO DOS AGRACIADOS DA COMENDA MÉRITO CULTURAL CATEGORIA “Em vida” FREI ANDRÉ FICARELLI Frei André Ficarelli é italiano, e pertence a Ordem do Servos de Maria. Ficarelli está no Acre desde 1950. É o arquiteto que projetou a Catedral Nossa Senhora de Nazaré, em Rio Branco, cuja construção teve início em 1948, com inauguração em 1959.

POETA JORGE TUFIC O poeta e jornalista Jorge Tufic é acreano de Sena Madureira, nascido em 13 de agosto de 1930. Tufic é consagrado como um dos melhores e mais importantes poetas de sua geração, tendo exercido um papel imprescindível na literatura amazonense (Clube da Madrugada), cearense e acreana. Em 2012, recebeu o Prêmio Raul Bopp da União Brasileira de Escritores (RJ), pela obra “Quando as noites voavam”. Jorge Tufic pertece às Academias de Letras do Acre, do Amazonas e de Letras e Artes do Nordeste. É ainda autor do Hino do Estado do Amazonas.

 CATEGORIA “Em Memória” JORNALISTA JOÃO MARIANO DA SILVA João Mariano da Silva nasceu em Aracati, estado do Ceará, em 13 de maio de 1897. Chegou ao Acre no início de 1920, estabelecendo-se em Cruzeiro do Sul. Foi professor primário e redator do famoso jornal O Rebate, jornal fundado em 1921, e que veio a ser o de maior circulação do Território, o qual foi editor por 50 anos, desde 1946 (data em que João Mariano o assumiu) até 31 de março de 1972, quando faleceu. João Mariano marcou a história do jornalismo acreano.

CIENTISTA E ESCRITOR DJALMA DA CUNHA BATISTA Djalma da Cunha Batista nasceu em Tarauacá (AC) em 20 de fevereiro de 1916, e faleceu em Manaus, no dia 20 de agosto de 1979. Cientista, pesquisador, escritor, literato, homem de profunda cultura. Formou-se em Medicina pela conceituada Faculdade de Medicina da Bahia, em 1939, tornando-se um dos médicos mais conceituados da região Norte pelas suas pesquisas, entre outras no campo da Tisiologia. Foi presidente por três vezes da Academia Amazonense de Letras e presidente do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Publicou, entre outras, as seguintes obras: Letras da Amazônia (1938); Da Habitalidade na Amazônia (1965); O Complexo da Amazônia (1976); Cartas da Amazônia (1989, póstuma), publicado por Guimarães de Oliveira. Em 1996 foi publicado sobre ele o livro “Djalma Batista: um humanista da Amazônia”. A editora Valer, do Amazonas, reeditou algumas de suas conferências num livro intitulado Amazônia, Cultura e Sociedade (2003), e O Complexo da Amazônia, a mais importante obra de Djalma Batista.