Tosco, o antro da noite,
em ocre ou madeira fóssil,
aproxima-se de nós
em máscara e mito.
Seus olhos rasgados,
por arte esquecida rastreiam
cardumes de lava,
silenciosos caminhos de chuva.
O traço oval do conjunto
é um pássaro fixo,
antigo e severo.
A boca é outro enigma
que também nos devora.
Jorge Tufic
Do livro: "Fui eu", Escrituras, 1998, SP
Canta um pássaro morto sobre o dia
que a muitos outros já se misturou:
algo abaixo dos ramos silencia,
treme a terra na pedra que restou.
Vem de que mares essa nostalgia
que meus ossos fenícios engessou?
De Cartago, talvez, da noite fria
transformada no pássaro que sou.
Esse canto noturno me extenua.
Vem de Cartago, sim; da negra lua
por dono o sol que abrasa, mas festeja.
Esplende a noite em látegos de urtiga.
Brinda-se à morte ao cálice da intriga.
Meu corpo, feito escombros, relampeja.
( Coral das Abelhas)
alguns dos "sinos de papel"
Jorge Tufic
oculto no dom
de não ser ninguém
o grilo é som...
pétalas de mim
cultivo num jarro velho
que já foi jardim
em tantra medito
o saber é uma pedra
a mulher, o seu grito
ah, delicadeza
a mosca, senhora tosca
baila sobre a mesa