RETRATO DE UMA OBRA-PRIMA
É um tema banal, popular, vulgar. A mãe,
já tão gasto motivo dos cadernos poéticos e saudades, pois todos nós tivemos ou
temos a mãe a saudar, a lembrar, a louvar, a chorar.
Mas Jorge Tufic é um poeta excepcional:
com que realizou sua obra-prima, sonetos pós-modernos em que ele traça o
perfil, o “Retrato de mãe“, de sua verdadeira mãe, ou da personagem mãe.
O livro todo está no blog
O pequeno livro é uma obra-prima em
quinze sonetos. Começa por uma invocação.
O que lemos aí é a invocação de um sabor
(de um saber), de um elemento gustativo, a maçã, o trigo, me o visual, fios de
luz, e o táctil elemento do vento, e os aromas, a paisagem, a planície, os
montes e as noites, a pedra, a febre, o martírio.
- Venham fios
de luz, aromas vivos
misturar-se às palavras, à centelha
do louvor mais profundo deste filho
que se depura e sofre com tua ausência.
Venha o trigo do Líbano, a maçã
de que tanto falavas; venha a brisa
tecer mediterrânea esta saudade
que vem de ti quando por ti me alegro.
Que venha a primavera, saturando
vales, planícies, colorindo os montes,
noites de luar caiando os muros altos.
Venha a pedra da igreja onde ficaste
quando em febre te ardias. Venham lírios
rebrotados de ti, dos teus martírios
Invocada, a mãe começa a delinear-se,
começa a aparecer, vem em fragmentos, pouco
nítida, mas forte, sentida, ou pressentida, sim, começa ele a pintar o
retrato interno da dulcíssima Mãe e que logo todos nós assumimos como nossa
(quem consegue falar de sua mãe morta sem tornar-se piegas?), conjuntamente,
nossa mãe síntese e simbólica, a Fonte, semente e nome de nossa vida, que tudo
nos deu.
Tema freudiano, pois.
E no segundo soneto logo aparece um
mistério: Quem será este desconhecido Ramón que aparece no penúltimo verso?
É D. Ramón Angel Jara, Bispo de La
Serena, Chile, citado no pórtico do livro. No livro há citações, pós-modernidade.
Ou seja, a obra se diz: “Calma, eu sou apenas uma obra literária”.
A descrição, o retrato começa pelos
cabelos, as tranças, a voz, a lembrança. A fronte do pão, do leite, da flor, do fruto. Mãe que é
para “amar depois de perder”, como no verso de Drummond. Na verdade, Tufic, só
de lembrá-la um soluço arrebenta-nos a crítica.
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