quinta-feira, 28 de maio de 2020

SONETO

A lua envelhecida ocupa os ares.
Desce inteira das nuvens, e assim plena
larga todas as vestes. Mês de junho
sabe a feitiço e os peixes envenena.
Algo desata a flor dos jasmineiros,
ventos carregam súplicas e brados.
Essa lua, porém, de que me lembro
tem o rosto senil dos afogados.
Jovens que se largaram pelos rios,
braços rijos nas faias, nunca mais
regressaram das margens convulsivas,
dos laços de algum réptil. Que eu recorde
todos dormem sonhados pela aragem,
ecos perdidos numa só voragem.

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