Discurso pronunciado por Jorge Tufic, ao receber o título de Cidadão do Amazonas
              Meus primeiros agradecimentos desta honrosa investidura, 
que sejam para os generosos confrades da Academia de Letras, Ciências e 
Artes do Amazonas , constituída por Gaitano Antonaccio, Urias Freitas, 
Orígenes Martins, José Coelho Maciel, Manoel Bessa Filho, Bernardo 
Cabral (Honorário), Francisco Ritta Bernardino, Eliana Mendonça de 
Souza, Eurípedes Lins,  dentre outros, tendo à frente o primeiro da 
lista, cuja demanda, hoje vitoriosa ao me ser conferido o título de 
Cidadão do Amazonas, foi trazida a esta Assembléia Legislativa pelas 
mãos do Deputado Sinésio Campos, o qual, por sua vez, encontrara aqui o 
desejado apoio e a unanimidade que tanto me engrandece.
             
 Gostaria, também, de consignar palavras de gratidão a todos quantos 
votaram a favor desse projeto, de tal forma que quando chegara ao Poder 
Executivo, o Senhor Governador Eduardo Braga, segundo me informaram, não
 hesitou em sancioná-lo e dar-lhe a textura definitiva da Lei de número 
3.447, de 21 de outubro de 2009, publicada no DO do Estado de número 
31.698. Obrigado, pois, a Sua Excelência o Governador do Estado do 
Amazonas, com quem estive recentemente na festa de reinauguração da 
Academia Amazonense de Letras e a quem já não via há mais de dezessete 
anos. 
             Dirigindo-me agora ao povo do Amazonas, que ele 
me indulte pela mudança apenas de endereço, mais do que de praia ou de 
naturalidade, posto que fui obrigado a fazê-lo motivado por fatores 
diversos, a começar pelo nosso clima e os problemas de saúde. Mas ficara
 em Manaus uma parte considerável da família, a exemplo do filho, 
sobrinhos e sobrinhas, primos e primas, netos e bisnetas, vários dessa 
tribo numerosa exercendo cargos no serviço público e empresas 
particulares. Raízes fenícias do coração brasileiro.
2- UM RESUMO DE MEUS NOVOS INÍCIOS LONGE DO AMAZONAS           
Já
 em Fortaleza, tão logo me acomodara com a família, não antes de 
mourejar nas periferias da urbe em crescimento, fui convidado para a 
solenidade festiva dos cem anos da Academia Cearense de Letras, 
encontrando ali velhos e novos conhecidos, com destaque para Ciro Gomes,
 então Governador do Estado e uma semana depois, Ministro da Fazenda, 
Rachel de Queiroz, Caio Porfírio Carneiro, Josué Montello, José Helder 
de Souza, além de inúmeros escritores e poetas oriundos dos demais 
estados nordestinos. No dia seguinte era sábado e fui chamado, por 
telefone, a tomar parte de uma reunião do grupo formado por Luciano e 
Virgílio Maia, Carlos Augusto Viana, José Telles, Pedro Henrique Saraiva
 Leão, Carlos Emílio Correia Lima, entre vários outros da equipe 
encarregada de publicar um famoso tablóide de literatura e arte, 
denominado ¨O Pão¨. Juntei-me a eles e a partir desse momento os 
principais jornais do Ceará começam a receber colaborações minhas, do 
soneto à crônica, da crônica ao ensaio, do ensaio à resenha de livros.
              Vendo isso, Gaitano Antonaccio, apoiado pela sua Academia,
 me concede o título de Embaixador da Cultura Amazônica para todo o 
nordeste brasileiro. Numa sequência inusitada, recebo o diploma de 
Mérito Cultural da Academia Cearense de Letras, sou eleito e recebido 
pela Academia Acreana de Letras, em solenidade realizada no auditório da
 Assembléia Legislativa do Estado, com a presença do Governador Jorge 
Viana. Em 1999 conquisto o primeiro lugar do Prêmio Nordeste de Poesia, 
realizado em Pernambuco, com meu livro ¨A Insônia dos Grilos¨;  ganho 
também em primeiro lugar o Prêmio Nacional de Ensaio, concurso promovido
 pela Academia Mineira de Letras, em 2003, com meu livro intitulado 
¨Arte Poética¨, bem como os prêmios de poesia em concursos realizados 
pelo Ideal Clube de Fortaleza, nos anos 2004 e 2006. Sou membro da 
Academia de Letras e Artes do Nordeste, da Academia do Sonho, do Clube 
do Bode... Mercê do diálogo fraterno, tem-me sido fácil a convivência, o
 afeto, a solidariedade humana. Onde quer que esteja.
Senhoras e senhores:               
               Na verdade, minha ausência física de Manaus, antes das 
razões expostas, terá sido uma conseqüência natural de quem vai se dando
 conta da tragédia biológica que se arrastava, já, desde os anos 
setenta, com a morte, prematura ou não, de tantos companheiros do Clube 
da Madrugada e confrades da Academia Amazonense de Letras: o vazio que 
ficava em nós, a solidão crescente de nossos dias maduros.  Some-se a 
isto um tipo de sucateamento de nossos valores ainda na plenitude de sua
 força criadora, uma espécie de ostracismo gratuito à vista de cargos 
passageiros e remunerações pífias. Quanto a mim, eu não precisei do 
Estado do Amazonas para me aposentar, embora tenha sido funcionário da 
CERA (Comissão de Estradas de Rodagem), Fundação Cultural do Amazonas e 
Conselho Estadual de Cultura. Como Jornalista Profissional, renunciei, 
do mesmo modo, aos direitos que me assistiam diante das controvérsias 
acerca da ética e do bom senso. Por outro lado, conquistei, sim, prêmios
 vultosos em Concursos de extensão nacional, dentre estes o que foi 
instituído para escolha da letra do Hino do Amazonas.
             Em
 1990, fui convidado a disputar as eleições para o Senado Federal, uma 
única vaga. A chapa de então, pela ordem: Amazonino Mendes, Jorge Tufic,
 Jefferson Péres e Marlene, do PT. Amazonino venceu. Palmas pra ele. 
Dessa aventura restaram dezenas de artigos estampados nos quatro jornais
 de Manaus, e, à guisa de manifesto, cinco ou seis itens de programa em 
defesa do Estado, inclusive o intuito que me animava em propor a 
extinção do próprio Senado, uma réplica tupiniquim dos EE.UU da América 
do Norte.
3- QUE SOU EU,AFINAL, SENÃO ESTE UMBIGO DA TERRA?            
          A gente faz o que pode. No ciclo amazônico de minha poesia, 
sobressai o livro que intitulo de ¨Quando as noites voavam¨, uma súmula 
que pulsa em minha vida sem quando nem onde, uma sorte de estalo a que 
dei o máximo para atingir o mínimo, a calcular pelas dimensões do 
projeto sonhado ao longo desses últimos quinze anos,quando o mesmo 
aparece
com o nome de ¨Boléka, a onça invisível do universo¨, e, em 
segunda edição( ¨Quando as noites voavam¨), acrescido de mais três 
livros; e agora, outra vez aumentado,  compõe-se de uma quarta parte sob
 o título de ¨Contam Contam¨. É o presente que tenho para ofertar ao 
povo amazonense. Trata-se da vivência interiorana, homenagem aos 
primeiros índios que conheci em minha infância, empregados de meu pai. 
Ao me encontrar perdido nas matas, lembrei-me de sua ¨cartilha¨, 
seguindo as margens dos igarapés, já sabendo escolher as árvores para me
 abrigar, orientado pelos raios do sol e o primeiro cheiro de fumaça, 
cuja origem, um tapiri de carvoeiro, salvou-me das onças, da fome e do 
frio.                           
              Com estas lições eu 
pude chegar, anos em marcha, ao planalto de onde os antigos vedas 
sondavam o passado e previam o futuro. Mas este,  senhoras e senhores, 
só a Deus pertence.
              Muito obrigado.

 
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