sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

SONETO AOS IDOS

(foto de r. samuel)




SONETO AOS IDOS

Um rascunho de nuvens me sugere
campos lavrados por um cinza antigo;
e algo de mim nas franjas desse trigo
aos amenos de um bosque me transfere.

Nada em tanto vazio assusta ou fere,
oblíquas horas rangem nesse abrigo
onde o tempo é cifrado e a voz do amigo
clama sem a voz do outro, ainda que espere.

Dali fui para o monte e vi cavalos,
a força do trabalho que, a intervalos,
dava às covas ossadas ambulantes.

Destroçou-me esse impacto, esse contraste
entre pobres e ricos; não me baste
que este mundo não seja o que era antes.


Nenhum comentário:

Postar um comentário