terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A ESCRITA



A ESCRITA


Também eu, Arie Gelderblom,
já estive entre cartas:
espelhos ou vendavais?
Mas estas, as minhas,
só tiveram como resposta
cadeias de montanhas, rios,
tapetes que voavam
e a dura mudez daqueles lábios
que nunca souberam migrar
nem mesmo para Beirute,
Veneza, Cairo ou Sevilha.
Uma carta, todavia,
seja a tua ou a minha –
especialmente esta que aperto
contra todas as dúvidas
para levá-la ao Correio,
eis que logo se perde ou se transforma:
ela rompe seu lacre e
mostra-se por dentro,
escultura oca ou peito vazio;
este risco pálido das letras
numa dança de insetos, nuvens,
garrafas submersas e: por quê não?
tua imagem, teus raios luminosos
que giram desiguais, murcham,
fazem cair (entre parêntesis)
toda e qualquer possibilidade
de lettera, brief, maktub,
ou, apenas, de uma ingênua
troca de selos?



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