terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O MASSACRE DA PRAIA



O MASSACRE DA PRAIA

Apenas o que está impresso
ganha relevo sob as asas do abutre
que rege este dia.
Todos os habitantes da cidade
nos deixaram esse monstro:
um fim-de-semana deserto,
uma composição arbitrária de musgo,
telhados ocres, ruas
como serpentes digerindo
a ferrugem e o enxofre azedo dos
depósitos vigiados pelo olho frígido
que nos segue, e mata.
Apenas um texto que se repete,
confirma os alicerces da manhã.
O amor é negado.
Tornam-se inúteis e vagas
as estruturas de aço e concreto,
espaços de lazer, terraços de há muito
tomados somente
pelo fantasma da poeira.
Nunca se pôde evitá-lo:
diminuta centelha de urânio
implode o nexo evasivo
 entre a praia silenciosa e a urbe
sedenta de privilégios.
Eliminam-se os irmãos,
enterram-se vivos os primos,
liba-se o vinho nos crânios pulsantes,
reviram-se as malas, consagra-se o
martírio em nome dos ratos 
da terra que se move, arenosa,
da reza que voa.
Para onde, Senhor?

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