sexta-feira, 22 de abril de 2016

As várias mortes de Makunaima




As várias mortes de Makunaima 


Makunaima sacode o corpo de mato. 

o chão se levanta e caminha. 
Fazer é seu verbo de frutas alegres, 
e por onde ele anda, um ramo de susto 
cai desprotegido 
ao solo de um gorjeio. 
Aqui, uma cobra balança seu cacho de veneno; 
ali, Makunaima já tomou sua pele 
e veste, com ela, os macacos-da-noite. 
Makunaima é o princípio do invento. 
Para ser anzol, ele começa de peixe, 
sabe esperar com boca de piranha 

o lance do pescador. 
Para ver-se fazendo o que fazem 
com a racha das mulheres, 
ele fica menino pidão, mas foge pro mato 
com a embira do irmão. 



o verde é um silêncio de festa. 
Makunaima despeja seu gozo de febre 
e, lá no alto, 
aparece a constelação do Mutum. 
ele fabrica o céu 
com os pés de terra. 
suas mortes são várias. 
Porque mesmo no bucho de uma fera, 
ou dividido entre braços, pernas, dedos, 
tronco, ele comanda o suor do resgate, 
a surpresa e o vazio 
daqueles que o trazem de volta. 
não tem sacanagem de bruxo 
que lhe passe a distância. 
Makunaima tece a hipnose dos grilos. 
Com essa teia de sons, ele entrama 

o tempo no espaço: 
arruma as coisas de novo 
se deita, afinal, em seu leito de palha. 
enquanto dorme, fricciona os artelhos 
e provoca um incêndio, 
somente, só, para rir dos mosquitos. 




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