sábado, 15 de março de 2014

A POESIA ATRAVÉS DOS TEMPOS



CURSO DE ARTE POÉTICA
 



A POESIA ATRAVÉS DOS TEMPOS

POESIA
        


 Os povos indígenas contam seu mundo. Uma parte
dessa “literatura” dos primórdios da Amazônia acha-se
recolhida nas obras de Antônio Brandão de Amorim, Barbosa
Rodrigues, Elmano Stradeli, Nunes Pereira, Theodor Koch-
Grünberg e outros. A língua geral do Amazonas ou Nheengatu
(= nheen (língua), catu (bonito), falar bonito, orquestrada pelos
missionários jesuítas como primeiro passo da cataquese,
servira ao mesmo tempo para contornar a fechada barreira dos
falares e dialetos existentes na região, facilitando,
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posteriormente, a coleta daquele material etnográfico: lendas,
costumes, puçangas, mistérios e testemunho. Saberiam, por
acaso, os cientistas que tesouro poético traziam para a cultura
do branco? Sobre este fato inusitado escreve Raul Bopp: “Os
nheengatus, colhidos genuinamente nas malocas do Alto
Urariquera e na região do Rio Negro, eram de uma
enternecedora simplicidade. Por exemplo: “Há muito, já, no
princípio do mundo, contam, desceu do céu uma moça, de
lindeza de rosto” etc. Ou então: “Nos tempos de
antigamente...” O tuxaua acreditava na sua origem cósmica
quando dizia: “Aquela estrela que me gotejou...” Nos diálogos
afetivos, usavam o diminutivo dos verbos: “estarzinho”,
“esperazinho”, “adoçazinho” etc. Para dar ênfase a certos
episódios, recorriam ao processo de repetição do vocábulo,
como “pula-pulavam”, “vira-virando” etc. “(Raul Bopp,
“Putirum”, ed. Leitura S.A, Rio, 1968).
            Língua postiça, importada, artificial e imposta, legou-
nos contudo, o nheengatu, a riqueza e a plasticidade de um
vocabulário singular, dentre o qual substantivos, adjetivos e
verbos que detém a fragrância, a tônica e o toque mágico na
fixação da paisagem e dos fenômenos que movem, e se movem,
em planos, emaranhados e acidentes geográficos de cada
pedaço habitado pelas diferentes nações, ou tribos autóctones.
Temos, assim, PANÃPANÃ (borboleta), CATUÌ (bonzinho), YÚRI
(água corrente), CUARI (buraquinho), YPIXUNA (água preta),
PURANGA (bonito), ANDIRÁ (morcego), etc. Dos verbos que
transmitem carinho, amizade, conforto e segurança:
ESTARZINHO, DORMEZINHO, fazer DOIZINHO, ADOÇAZINHO,
etc.; inclusive muitos outros, somente traduzíveis para qualquer
idioma mediante recursos estilísticos habilidosos.
           Com certa estilização no arranjo das linhas, que
passam da forma prosaica para versos e poemas,
transcrevemos, a seguir, as lendas Macuxi, do Rio Negro, e a
Uanana, do Alto Rio Negro. A “Elegia Tucano” é de nossa
autoria, inspirada recentemente na última curva, talvez, de
transição e decadência desse povo heróico.


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