domingo, 2 de março de 2014

CURSO DE ARTE POÉTICA


CURSO DE ARTE POÉTICA

 Incursor e praticante de seu cotidiano, o poeta, este
cidadão libérrimo, se toca e se arrasa em traumas silentes,
envolto na fugacidade de uma existência criadora, mas vítima,
ao mesmo tempo, das grandes e pequenas tragédias que
montam a perspectiva e o absurdo do mundo contemporâneo. A
sensibilidade moral e a condição humana, norteiam seus
passos. Lírico ou épico, seu discurso traduz a lasca viva do
torvelinho, da mudança e da transformação. Sua linguagem
opera em todos os níveis, pois a linguagem poética está a uma
linha quase invisível daquilo que se denota. É a linha imaginária
que une os contrários diante da reflexão de um minuto, apenas.
Este leve tecido humaniza e dá um sentido às coisas. Este
sentido é poesia.
           Publica o Suplemento Literário de Minas Gerais, em
seu nº 1103, que Mário Quintana evita os entrevistadores,
“chatos perguntativos”, na sua opinião, para driblar perguntas e
assuntos poéticos. Ele prefere conversar amenidades, ou coisas
do cotidiano. Quintana, tido como o mais puro dos poetas, tira
de suas passadas habituais pela cidade de Porto Alegre, a cor, o
som, a palavra e o neologismo bem à maneira de seus poemas
instantâneos, até de suas vírgulas. Ao contrário de certos
colegas de ofício, que de tanto se confinarem em suas
bibliotecas mais parecem livros do que gente, esse poeta
gaúcho, estando agora numa fase de releitura do quanto lera e
vivera em toda sua vida, é, portanto, na vida e no mundo que ele
busca alimento para escrever. Seu coloquialismo retoca o
Inferno de Dante... (1988)
          Filósofos, cientistas e tecnocratas, ao cabo e ao fim
de suas lucubrações, deparam com a verdade na poesia. Todas
as aparências e projeções de fenômenos naturais ou
mecânicos, apesar de infletirem qualidades variadas,
dependendo do ângulo, da visão e do sentimento que observa,
nunca se repetem. A luz do sol, o reflexo das águas e tantas
outras “descargas” e toques subliminares, povoam nossos
dias. A noite apanha estes sonhos, e navega com eles. Como
seja a posição de cada um, nós tomamos desses objetos a
imagem real ou a imagem ideal. Esse gesto comum, aliado a
uma “estória” ou mesmo aos temas de nossa intimidade
doméstica, se exprime por várias outras imagens e metáforas
que às vezes se combinam de modo inconsciente. Essa imagem
ideal, que já existia, por exemplo, no projeto e no sonho do
artista antes da imagem real, é um dos componentes do nosso
cotidiano. Associada ao convívio afetivo, ela vai enriquecendo e
aprofundando as demais vivências que tivemos nas idas e
vindas em que tantos outros fatores - como o vento e as chuvas
- tiveram sua parte.

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