segunda-feira, 16 de abril de 2012

AGENDA 1965



10/maio


Nada há no mundo que não se possa complicar ou simplificar. Amanhã eu emendo as fraturas da complicação. A natureza é o que é: os olhos de um tigre só podem reproduzir o tamanho de seu estômago. Para quebra dessa harmonia entre o antropóide e a solidão das cavernas, criaram-se as mãos. Por si mesmas iluminadas. Tão cerebrinas, tão contraditórias. Afáveis, armadas de osso, facas, rosas.

* Waldomiro:aval. Se o empréstimo der certo, eu me livro do BCMG até segunda ordem. À tarde compareço na ferragem do Sanches. Trata-se de conseguir uma Carteira Profissional para seu irmão que teve uma perna amputada.- Max Martins novamente em Manaus. Uma festa para todos nós, seus amigos do Amazonas.


12/maio


Continuamos à escuta das vozes do Planalto, na Hora do Brasil. Leio um poema de Thiago de Mello, que chega aos 38 anos de idade.


15/16/maio


Exclusivamente familiar. Minha filha Eliana com febre. Examino o jornal e verifico que o suplemento está bom. Centenas de leitores devem achar o mesmo ao gesto que me leva a dobrar esse pão que nos consola, anima e ressuscita. Sou designado Diretor da página literária do CM. A responsabilidade fica maior, mas eu tenho o editorial da mesma para ir dando o compasso da dança, orientar os leitores sobre as transformações ocorridas, sempre por via de acordos ou cisões entre pessoas ou grupos da mesma falange.


17/maio


D. Lídia Caldas, depois de D. Alcinda Doca e do professor Perneta, foi minha última educadora em Sena Madureira. No quintal da escola, nós, todos os alunos, tiramos uma fotografia no ¨Dia da Árvore¨, ainda hoje conservada por ela nas folhas de um álbum. Por acaso me encontro com minha boa mestra na avenida Eduardo Ribeiro, nem sei recordar quantos anos após esse dia memorável. Ao chegar na redação do jornal, registro numa tira de papel: ¨Os tempos mudaram, D. Lídia. Do meio agreste onde vivemos parte de nossa vida, eis que só resta esse perfume que nos chega entre o lamento das carroças puxadas a bois e os pés de eucalipto segurando os barrancos. O ABC que nos ensinavas entre as manhãs agitadas do porto e as tardes fagueiras do poeta Casimiro de Abreu, converge agora para ti como um de nossos cadernos cheios de desenhos alusivos à data de teu aniversário. Na foto envelhecida, ali estou eu de calças curtas e cabelos revoltos, observando o plantio de um belo exemplar da flora acreana. Retorno ao pequeno universo da infância, ao bosque velado entre murmúrios e suaves crepitações adormecidas. Quantas recordações.¨


Nenhum comentário:

Postar um comentário