ALENCAR E SILVA
POR JORGE TUFIC
Mas foi o professor e crítico Arimathéa
Cavalcanti, o autor que melhor estudara o poeta no livro citado linhas atrás,
estudo esse o qual, pela extensão e planejamento, tem-nos encaminhado para uma
compreensão global de sua obra poética. Deste modo, esclarece: ¨PUDE agora
ultimar a análise, sem caráter definitivo, mas de modesta contribuição, na
certeza de uma verdade insofismável: a obra enriquece espiritualmente a quem
quer que a folheie. Pois o livro – Território Noturno, de Alencar e Silva,
propõe amplas reflexões, eis que abrange aquelas regiões oníricas onde nem
sempre mergulham escafandristas neófitos, na tentativa de desvendar-lhe quando
não o hermetismo, pelo menos a aura de enigma criada pelos símbolos, ajudados
do próprio autor, em comparações e confrontos textuais¨. Ressalta o lírico, percebe
vagamente a presença de um neo-misticismo em algumas de suas escritas,
dando-nos, afinal, uma investigação crítica dificilmente encontrada em
monografias da espécie.
Poeta maior, escritor extensivo aos
mais difíceis gêneros literários, memorialista que faz a história de sua
geração e do Clube da Madrugada, Alencar e Silva conta com os seguintes livros
publicados, entre prosa e poesia: ¨Painéis¨, poesia, 1952, ¨Lunamarga¨, poesia,
1965, ¨Território Noturno¨, poesia, 1982, ¨Sob Vésper¨, poesia, 1986, ¨Poesia
Reunida¨, 1987, ¨Noturno Após o Mar¨ (crônicas e poemas em prosa), 1988, ¨Sob o
Sol de Deus¨, poesia, 1992, ¨Ouro, Incenso e Mirra¨ (poema em cinco segmentos e
cinqüenta sonetos), l994, ¨Solo do Outono¨, poesia, 2000, ¨Jorge Tufic: As Tendas
do Caminho¨, ensaio, 2004, ¨Crepuscularium¨, poesia, 2006. A sair, tem o Autor
os seguintes títulos: ¨Prosa Vária¨, ensaios, e ¨Poetas e Figuras na Paisagem¨,
ensaios. Entretanto, como um de seus velhos companheiros, sou testemunha das
inumeráveis ocasiões em que a Musa lhe dera aquele sopro extra para compor
sonetos e poemas, satíricos ou não, com o único objetivo de exercitar as
falanges, expor deformidades ou tirar-nos de certos apertos em nossos caminhos
pelo mundo. Um fato no mínimo grandioso, ocorrido em São Paulo (1951), ao
ensejo da visita que fazíamos à sede da Prudência e Capitalização, na
tentativa de obtermos apoio às nossas
viagens de Caravaneiros da Cultura, foi Ramayana de Chevalier, secretário
particular de Adalberto Vale, Superintendente da empresa seguradora, quem nos sugeriu a idéia de formularmos o pedido
que tínhamos a fazer, através de um soneto.
Sem demora, Alencar e Silva tomou a si o desafio, redigiu, com a maior
tranqüilidade, os quatorze versos solicitados, e, assim, com este ¨passaporte¨
, oficializamos palestras e contatos em Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre.
.
A obra de que estamos nos ocupando,
reúne todos ou quase todos os sonetos do autor, recolhidos das páginas de oito
títulos, com mais alguns avulsos, sem falar nos improvisos ou nas
circunstâncias poéticas ou de foro íntimo. Sem falar, também, nos rejeitos que
vamos deixando nas cestas do lixo, nem sempre merecedores desse trágico
destino. Egresso do rigor parnasiano, do neo-simbolismo e dos versos livres que
trazíamos conosco do sul do País, a estrutura do soneto alencarino é simples,
funcional e profundamente sugestiva, quando retarda ou deixa ao leitor a
fruição da beleza e da verdade. ¨Quero
enxuto o meu verso e muito simples¨
Em ¨O Soneto no Amazonas¨ (pag.
22), eu destaco esse verso de um soneto de ¨Lunamarga¨ como exemplo de ¨linhas
calmas e transparentes, despojado de lugares-comuns e dos artifícios postos em
prática, na ânsia de inovação, por
certos autores da corrente futurista¨.
Já é hora, contudo, de entregar ao leitor
este livro do poeta, representativo, como se verá, de uma de suas paixões
literárias, talvez a maior, que é a arte do soneto. Mas Alencar e Silva é poeta
em qualquer situação, gênero ou categoria. Um belíssimo poema ele carrega,
também, no afeto e na convivência
humana, de que nunca, jamais, enquanto vivermos, podemos nos esquecer.
Jorge Tufic
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