Brevidades e a chave do labirinto
Jorge Tufic
Embora aposentado das
resenhas, e, por extensão, dos prefácios sobre livros que tivessem me dado essa
força, quer pela temática, quer pela linguagem, Brevidades, do poeta Pedro Du Bois, traz-me agora de volta para
esse pequeno extravasamento de apenas leitor, já que as outras virtudes do
ofício carecem do lastro acadêmico para alcançar-lhe as profundezas que aí se
cristalizam, numa síntese de quem fala para si, mas que essa fala para si pode,
também, ser a fala do outro, numa interlocução que objetiva os “relatos” de
cada poema.
Pode-se dizer, assim, que estes
conjuntos lapidares são códigos de uma lírica que foge ao mesmismo de tantas
outras brevidades e questionamentos acerca da música, da lucidez, dos gestos
repetidos, dos imprevistos e do próprio silêncio, de onde se alçam os pássaros
aflitos do ser e do nada. Recortes visuais da paisagem urbana, objetos cativos,
o irreal no lugar do real, cadenciam as estrofes do poeta, enquanto seu “lúcido
acordar” apanha o centeio e vela o sono equivalente a quilômetros e milímetros
daquela chuva de que trata seu poema 11, “jogos que terminam empatados”,
olhares e cenas imaginadas.
(Ousamos, aqui, eleger o de número 42
como referência de leitura para cada uma dessas unidades plumárias de celebração
poética, ficando ele como guia alternativo para todo o texto.)
Assim, é de importância observar como o
autor deste livro capta as situações e posturas mais diversas em que se vê,
dando aos tranquilos ou abismáticos rituais de seu quotidiano admiráveis
“estampas” da realidade em cada bloco ou fragmento, como se “cantos” fossem de
uma bem elaborada saga individual, entre a “solidão do corpo” e a “sentinela do
olvido”.
Vê-se, então, com mais claridade à força
de o ler, que o poeta Pedro Du Bois se estrutura, com a palavra alquímica, ao
atingir os auges da metáfora espontânea, capaz desta e de outras metamorfoses
que se completam no arremesso da seta que leva de parelha tudo quanto escorrega
(e não volta), “o final reprisado ao avesso”, rei e vassalo.
Não é, pois, a meu ver, uma poesia que se
expõe ao arreganho dos críticos, muito menos à inútil tentativa de analisá-la,
como se faz a um texto comum, parecido com tantos outros. É poesia para ser
lida e pensada, se possível tomando por exemplo o método do autor: “onde me
valem horas de palavras”. No mais, o
sabor do que é novo, a alegria de saber que a palavra ainda é capaz de unir, em
vez de separar.
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