quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O CRISTO DE SARAMAGO

 



O CRISTO DE SARAMAGO


A rede, sim, transluz-se e colhe o peixe.

A terra é sangue, inútil proteção

ao cordeiro aflitivo – que se o deixe

manumisso da horrível sagração.


A tempestade, o mar, o rubro feixe

se azula em mim nos touros de um clarão...

Ventos, parai! Que o mundo não se queixe

dessa fúria de Deus em minha mão.


Que são curas, milagres como o vinho,

meus pássaros de areia, o gesto santo

no adiar-se a vida para mais caminho?


Uma simples mulher curou-me, um dia,

das chagas com suas lágrimas; e o quanto

dera-me alívio à cruz donde eu pendia.

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