Alencar e Silva, na
Academia Amazonense de Letras,
em julho/2007. |
Jorge Tufic
Hoje, dia 25 de
setembro de 2011, se aparta de nós o poeta-irmão Joaquim de Alencar e Silva (o
Neto, como sempre foi chamado), e, em seu lugar, nesse Rio de Janeiro que ele
tanto amara, fica a primavera recém chegada, somando às flores do seu velório
uma galáxia de bogaris e crisântemos, numa festa também de rosas ao lírico de
LUNAMARGA e tantos outros livros de sua autoria. Chegou-nos a notícia através
de um telefonema do Max Carphentier, e, logo, pela Internet, começa a
expandir-se a foto do poeta e um resumo de sua biografia. Tudo muito rápido,
enquanto as grandes famílias Dutra e Alencar pranteavam o trespasse desse
inigualável pai e esposo, sem a menor quebra de harmonia entre sua pena de ouro
e os encargos decorrentes do aconchego doméstico, frequentemente dividido com
os amigos de longos anos, parentes e a gente humilde de Botafogo, bairro onde a
Casa de Rui Barbosa permanece como um símbolo de tradição e respeito à história
de nossa cultura.
Para mim, que devo tudo o que sou a ele, no que tange ao saber
e ao aprendizado das letras, e apesar do quadro de saúde nada esperançoso que
vinha apresentando nos últimos meses, a notícia dada pelo Max à Izabel, pelo
telefone, encontrando-me eu ausente de casa, conseguiu nos abalar como se o
mundo acabasse de ser atingido por aquele meteoro de que nos fala Henri
Klibnik, autor de “La Grande Peur de Lan 2000”. Sem ação, contudo, restava-nos
apenas ficar imaginando o que realmente teria acontecido ao Neto, sem ninguém
disponível, nesse domingo, a nos dar qualquer luz nesse túnel de angústias e
dolorosas interrogações, tendo às voltas dramas e tragédias como estas das
cidades desertas pelo final de semana, a par de uma inexplicável ausência de
profissionais da saúde nos postos de atendimentos. Em seguida, porém, telefonou-me
o Renato Farias, ansioso também para obter informações concretas sobre aonde
poderia se dirigir para o último adeus ao querido amigo. E, por último mesmo,
recebi o telefonema do Saulo, quando, enfim, já não tinha mesmo jeito, choramos
juntos.
Alguns meses antes,
presenteou-me o Alencar com um bilhete de passagens
Fortaleza-Rio-Rio-Fortaleza, com estada em sua própria residência, em Botafogo,
tempo esse, de dez dias, em que estivemos juntos, ajudados pela Hilma, sua
filha, na escolha de 200 sonetos de todos os seus livros, para futura
publicação, cujo prefácio escrevi, tomado por uma alegria e um orgulho
imensamente juvenis, chegando a sentir-me azul diante desse mistério narcísico,
segundo uma parábola de Oscar Wilde, em que o discípulo se vê como se fosse o
mestre, olhando-se em seus olhos.
Antes de meu
retorno a Fortaleza, ele e Nair, sua esposa, deram-me um terno novo do poeta,
para que eu o provasse, e, dando certo, ficasse com ele como lembrança daqueles
dias memoráveis. E assim o fiz, não contendo as lágrimas, já a bordo da
aeronave, quando pude compreender o segredo e o mistério do verdadeiro afeto,
diante do mar e da eternidade.
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