sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
O PROTESTO DE BOCAGE
Aparecem em 1969, e quem sabe posteriormente, as ‘’Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas’’ do poeta, numa duvidosa Coleção Clássicos do Erotismo, da Editora Escriba Ltda., em São Paulo, explicando aos furtivos adquirentes da mesma que ‘’esta edição foi feita com base na publicada em Paris, em 1911’’, inclusive as notas incluídas na parte final do volume. Esta referência, embora cautelosa, nos faz duvidar se a editora baseou-se na melhor edição de Bocage ou simplesmente deturpou-a, levando ao público um texto pessimamente revisado, e, em vez do prefácio elucidativo da primeira edição, trazendo apenas uma série de itens sobre a origem dos poemas
e sonetos divulgados. Enfim, uma edição apressada, mal revista, dando a impressão de algo produzido unicamente para atender à sede de lucro fácil a que estão destinados outros clássicos da mesma coleção; a exemplo de ‘’Gamiani’’, de Alfred de Musset e ‘’A vida íntima de Ninon de Lenclos’’, de Autor Anônimo.
Este fato, sempre repetido, ilustra ao vivo as deturpações, paródias, imitações e demais acidentes por que vem passando, através dos tempos, a parte considerada ‘’imoral’’ da obra de Elmano, cuja marca de origem, no entanto, persiste e se avigora à medida que o lemos e interpretamos. Sua atualidade, com efeito, reside exatamente em ser ele, até hoje, um símbolo puro de rebeldia e protesto contra todas as forças que governam e conduzem os homens por um caminho negativo de sua própria humanidade.
Como lírico, Bocage extravasou sua alma embriagada pela beleza, batida pelo sentimento de transitoriedade das coisas terrenas, posta à margem pela condição plebéia de quem suspira, romanticamente, ao pé de uma janela impossível. Foi, porém, concessivo às fraquezas humanas de sua época, eternizando-se com ela. Como erótico, satírico e burlesco, apelou para o que trazia de mais secreto em seu íntimo conhecimento do quotidiano setecentista, fazendo valer os recursos de sua musa galhofeira no sentido de revelar as mazelas e os vícios de seus contemporâneos.
Ao lado do lírico marchava o crente, o poeta altissonante, o maçon, a parcela desejável da comunidade portuguesa.
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