segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Monte Mor e Haicais

 
   



Monte Mor e Haicais





Jorge Tufic


Dois livros foram lançados pelo escritor e poeta Almir Gomes de Castro: Haicais, poesia, e Monte Mor, romance.

Quanto aos haicais escolhidos ou selecionados por mim, dentre centenas de autoria de Almir Gomes de Castro, preferi os guilherminos ou semiguilherminos, desprezando aqueles que mais pareciam trísticos, ou seja, simples poemetos compostos de três versos, muito comuns em língua portuguesa, desde os seus primórdios. Pois não foi à toa que o mestre Guilherme de Almeida, ao traduzir haicais japoneses e ao deparar-se com o ideograma, conservara a métrica da composição original, mas, sendo isto pouco para fazer a diferença, introduziu-lhes rimas capazes de aproximar das nossas as mesmas dificuldades que os famosos cultores do gênero teriam encontrado ao traçarem o desenho de suas metáforas, tendo em vista o momento poético ou do êxtase místico imposto pela beleza singular das estações de cada ano. Fada-se, portanto, ao limbo o trístico de nosso idioma metido a ser um haicai de língua portuguesa, devendo ficar, para sempre, o que toma esta forma:


Por onde passou
O vento do catavento
O sonho ficou.

Quanto ao romancista de Monte Mor, pertence ele à nova geração de escritores do Ceará, podendo estar entre os mais jovens, pela técnica, e os mais velhos, pela inesgotável temática da vida sertaneja propriamente dita, quando aprofunda a história de Lampião e do Padre Cícero, ou torna aos mistérios de velhas localidades interioranas, a exemplo da austera Baturité das primeiras décadas do século XX. Com pinceladas breves, estilo sóbrio e narrativa meticulosa, dá-nos o autor, neste romance, uma dramática sequência de fatos históricos e sociais bem próximos daqueles que teriam sido legados ao esquecimento, mercê da cortina de mistério que ainda hoje se ergue entre a ficção e a realidade.

São dois livros de leitura fácil, agradável, poética, novelesca e moderna, com todos os ingredientes para substituir horas de televisão pelo contato humano da palavra, da cor, da rima, do verso, da história viva tirada de dentro de nossa própria História. E mais não digo, a fim de não estragar a surpresa que vem por aí.

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