Jorge Tufic
Este
novo livro do grande poeta cearense Francisco Carvalho surpreende pela
totalidade poética, liberta afinal de separações estróficas, quando traz
de volta aos leitores sonetos já publicados e dez inéditos, miniaturas
essas que, por sua vez e pelo simples motivo de que as rimas chegaram ao
seu máximo limite toante ou consonante, extrapolam dos cânones
tradicionais, sem, com isso, deixarem de inventar e reinventar a utopia
de Petrarca, Camões, Jorge de Lima, entre tantos outros, nunca em
desnível com os mais ferrenhos cultores desse gênero de arte, tão
brasileiro quanto universal. Nota-se aí, por outro ângulo menos visível a
quem não acompanha, de perto, a trajetória do autor, que a maioria
deles passara pelo crivo de uma releitura crítica, e foram selecionados.
Em
“Algumas Palavras”, nos explica o mestre: “Não adianta citar nomes, mas
é sabido que os verdadeiros poetas estão honestamente empenhados na
produção de uma arte poética que se distingue pela universalidade da
linguagem e pela prática de uma forma mais flexível às exigências da
modernidade. Escrevendo sonetos ou poemas em versos livres, revelam
qualidades literárias que os consagram à admiração da posteridade.
Afinal de contas, se o soneto está realmente fora de moda, ultrapassado
na forma e no conteúdo, por que tanta gente continua a escrevê-lo com
tamanha convicção? Deve existir alguma explicação para isso. Há quem
supunha que a preferência pelo soneto seria uma forma de opção pelo
caminho mais fácil. Será?”
A
prova em contrário, ou a resposta cabível, nós vamos encontrar ao longo
dessas 98 páginas da excelente coletânea de 170 sonetos éditos e 10
inéditos, dando-nos estes a leveza de uma nuvem-personagem que nos
encanta e tira o amargor da vida inteira através de uma dança em que vai
se detendo, ora como “pombas que voltam do exílio”, ora em diversos
lugares da infância do poeta, ora ainda a esperar numa esquina,
desdobrando-se e metamorfoseando-se como coisa real ou “engano dos
sentidos”. “A Nuvem e o pássaro”, aliás, já foi título de um outro livro
de Francisco Carvalho.
Tudo
para indicar, se é que deva ser necessário, o que logo sobressai da
primeira impressão de leitura, ou seja, a unidade quase palpável do
texto, agora tomado na sua totalidade, e mais que isso, a emoção que
transmite de um roteiro estético carregado de símbolos e metáforas que
também incursionam, mas sem transbordamentos ou evasivas, pelos domínios
da metalinguagem. Francisco Carvalho consegue ler a si mesmo do jeito que gostaria de fazê-lo com os outros. E atinge o máximo. Parabéns, amigo!
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