Pacote poético
Em 30 de setembro de 1999 escrevi um
texto que aqui transcrevo com algumas modificações:
Recebo um pacote pelo correio, um pacote
amarelo que apalpo e que sinto, há objetos dentro, possivelmente livros: sim,
são cinco novos livros de Jorge Tufic que eu lhe pedi pelo telefone e eu fico
me lembrando que, há quarenta e três anos atrás, ele publicava o seu já
clássico “Varanda de pássaros”.
Como pode Jorge Tufic manter 50 anos
ininterruptos de poesia apesar da crise por que passa a produção cultural
brasileira e a amazonense em particular? Porque depois daquele grupo do Clube
da madrugada muito pouco produziu a poesia de Manaus.
Eu era adolescente e Tufic já era dono
de uma grande obra que se afirmava principalmente nos seus sonetos
extraordinariamente inovadores e pós-modernos.
Na década de 80 eu já morava no Rio de
Janeiro (cheguei no dia 2 de janeiro de 1960) e nós nos correspondíamos por
carta. Depois ele se foi para Fortaleza e o perdi de vista. Soube que foi
homenageado no Rio de Janeiro, onde moro, mas não o vi porque estava viajando.
A última vez que o encontrei foi em Manaus,
no restaurante Galo Carijó, onde eu gostava de almoçar sempre que estava em
Manaus e onde também deparei ali com o Thiago de Melo, donde se conclui ser
aquele bar um ponto da poesia perene.
Voltei a comunicar-me com ele este ano,
quando eu tomei a ousadia de aventurar-me a candidato a uma vaga – a de Áderson
Dutra, primo de minha mãe – da Academia Amazonense de Letras: fui derrotado mas
valeu, pois me pus em contato com velhas e novas amizades.
Agora, recebo alguns livros e várias
pequenas publicações, entre as quais o belíssimo “Agendário de sombras”, uma
coleção de sonetos dos quais cito, ao acaso:
Necessito do rio e da paisagem
que me vira partir quando menino.
da visão surpreendida ou desse quanto
pode haver em redor do meu destino.
eram coisas e seres do meu tempo,
partes de mim que a vida, em seu
balanço,
foi deixando passar, nuvem sujeita
aos ventos, matéria sujeita ao ranço,
rubros sóis de verão, coleita breve
de azeitonas e ocasos, também contam.
Soldado entregue ao chumbo dos
brinquedos,
ao som, talvez, das águas deste inverno,
quero sentir na pele evanescente
como eu seria agora, antigamente.
Ao poetas menores como eu, Tufic aparece
como uma alta torre nos Himalaias, com a força da sua Linguagem, algo
inimitável e inatingível. Mas como pessoa ele tem a gentileza dos mais nobres
corações e nos brindou com imerecidas dedicatórias.
Dentre sua produção recente, no ano
passado ele publicou “Sinos de papel”, um delicioso livro de haikais que
bastaria para o consagrar:
Paineira caiada
Por uma lua de espuma
Tão cheia de nada.
Jorge Alaúzo Tufic nasceu no dia 13 de
agosto de 1930 e publicou seu primeiro livro aos 25 anos de idade. A Amazônia dele
se orgulha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário