RETRATO DE UMA OBRA-PRIMA
ROGEL SAMUEL
fazem lembrar as madres de Cartago.
Doce mãe, sombra tépida, murmúrio
de sonâmbulas fontes; poucos sabem
teu nome, enquanto, fatigada embora,
dás-nos o pão e o leite, a flor e o
fruto.
Poucos sabem te amar enquanto viva
e, quando morta, poucos também sabem
da fraqueza que em força transformavas.
Ai, retrato de mãe, quanto mistério
se converte na tímida lembrança
destes álbuns que lágrimas sulcaram.
Na verdade, Ramón, só de lembrá-la
um soluço arrebenta-nos a fala.
Depois vem a casa, a cozinha, as
comidas da culinária libanesa, a lentinha, o azeite, as cebolas fritas, a
coalhada, o pão redondo, que a Mãe preparava... mas tudo isso passou. Onde
estão as comidas, os pratos de lentilha, a terrina de azeite para as coalhadas,
as cebolas fritas? Tudo passou... Como, ao redor da casa, o vento. Como passou
o vento do tempo. Também passam a cerca do quintal, os vizinhos, as vozes
cantantes, e passaram. E o que passa é aquele Calendário sem datas, o chão do
passado, o que passa. A casa da mãe. O que passa. O chiar da frigideira. Os
convites. O passado convida o leitor no seu chamado culinário: a mãe é aquela
cozinheira das almas, das afetividades, da fraternidade, da ternura, o amor recende
dessa mãe cozinheira, que ainda manda seus recados e canta, é assim que ela
aparece, suada e infinitamente bela e luminosa, centro da vida familiar.
Social.
A mãe é o corpo da “vida privada”.
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