O PAPEL DO ESCRITOR CONTEMPORÂNEO DA
AMAZÔNIA
Sejam quais forem as
respostas a tais perguntas, o certo é que é chegado o momento da união, da
confederação e dos encontros periódicos, nos quais, sem dúvida, a simples troca
de experiências e objetos culturais entre as várias Amazônias compreendidas pelos
geógrafos, historiadores, antropólogos, observadores e estudiosos, possa
conduzir ao núcleo germinal de uma única Amazônia, como resultado da plena
consciência de suas origens comuns, em dez mil anos de lutas e caldeamentos. Se
podemos afirmar, em abono a essa tese, que os antepassados ameríncolas perderam
seus domínios e sua identidade em quatro estágios diferentes, mas sucessivos –
derrota militar, falta de resistência imunológica, derrota pela fome e pelo
escravismo e derrota étnico-cultural, segundo o historiador Antônio Loureiro, a
mais terrível de todas, - onde nos colocarmos, hoje, frente aos países ricos
que nos infligem derrotas semelhantes na taxa de juros e no endividamento
externo, senão como vítimas de um novo e definitivo genocídio? Diante dessa
realidade, também se coloca o escritor amazônico.
Amazônias diferentes e tão
semelhantes, aqui se encontram. Irmanadas sobretudo por aquele “algo extraño y
triste” de que nos falara Humboldt. Dez mil anos de solidão – resumidos ou
“tensificados” nos cem anos do romance de Gabriel Garcia Marques – instalaram
no ar e nos seres a nostalgia de um confronto impossível, mas onde a retórica e
o fantástico levam vantagem. Deste modo também, as mitologias do espaço
construído passaram o rolo compressor nas fábulas ingênuas, nas “bíblias” e no
lendário dos primitivos habitantes destas terras e destes rios. A pólvora, o
fio da espada e a racionalidade evangelizadora conseguiram, finalmente, dizimar
os guardadores desse universo mágico. Todavia, e porisso mesmo, “algo extraño y
triste”, ficou. O próprio Amazonas, na comparação de Santos Chocano, ao vir das
Cordilheiras, não é mais que “a silenciosa lágrima de um rio.”
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