O
RETORNO DA AURA
Luis Augusto Cassas, 41,
pertence a uma das mais recentes gerações de poetas maranhenses. Autor de
quatro livros de poesia, “A República dos Becos”, “A Paixão segundo Alcântara”,
“Rosebud” e “ O Retorno da Aura”, é deste último, no entanto, que iremos nos
ocupar.
Para início de conversa, não
se trata , aqui, de um livro comum. Elegendo uma temática espiritualista, que
passa pela mandala e joga búzios com os mestres derwiches da Idade Média, nem
por isso o autor deste livro abdica de sua natural coloquialidade ou senso de
humor, atributos estes que dão às suas obras aquele traço característico do que
veio para ficar. Deste modo e por extensão, “O Retorno da Aura” veio para ficar. Ele é
parte de um todo, sendo, ao mesmo tempo, a orquestra inteira e a pausa que
deixa fluir o mistério da partitura.
Diria, talvez, com um
certo pessimismo, que ele segue, por
este exato motivo, a pouco gloriosa trajetória daqueles raros que nascem,
respiram momentâneamente o oxigênio do noticiário, mas logo desaparecem das
nossas livrarias. Ou seja, deixam de ser reeditados. Submetem-se,
paradoxalmente, ao destino obscuro dos incontáveis milheiros de papéis
impressos destinados ao paralelo da gula
quantitativa, ao limbo implacável e, quando muito, ao sebo das curiosidades
peripatéticas. Esse “confronto” se estabelece, freqüentes vezes, ao depararmos
com títulos que já fizeram nossa cabeça, mergulhados agora entre centenas daqueles outros, alguns deles considerados
verdadeiros “Best selleres” (?).
Quando afirmamos,
entretanto, que “O Retorno da Aura” veio
para ficar, não queríamos com isso e por mera comodidade, repetir uma simples
frase comumente utilizada nas orelhas de livros de poesia, quer pertençam estes
à categoria dos singulares, quer venham unicamente com a função de impulsionar,
pela quantidade, o aparecimento nunca espontâneo de obras primas realmente
notáveis. Luis Augusto Cassas, antecipando-se, todavia, a uma possível arenga
sobre temas polêmicos ou modos de enfrentá-los ao nível da linguagem, logo
tratou de evitar que os primeiros dominassem os segundos, outorgando à Poesia,
em última análise, o encargo sublime de pô-los em ordem sob o rígido esquema do
mago e os recursos extremamente hábeis do poeta. Altos e baixos porventura encontrados,
não devem, assim, creditar-se ao fato de que a iniciação do filósofo ainda
guarda uma certa distância da coloquialidade original do poeta. Essa distância
é falsa ou aparente, posto que não deve ter sido fácil a recusa dos termos
peculiares ao satori no entramado afetivo e essencial da metáfora, tão peculiar
à natureza do poema.
Quem serve a quem, afinal de
contas, nesse encontro estelar da verdade com a poesia? Acreditamos, isto sim,
que a verdade ou a busca da verdade é que
serve à poesia, como a luz do sol, projetando-se no satélite da Terra, refina e
transcende os raios luminosos através do luar. Reprisando o óbvio, a linguagem
indireta refina e transcende, da mesma forma, a espessura das vestes prosaicas
inerentes à lógica e ao conhecimento
racional. Neste aspecto, Luis Augusto Cassas, poeta dos becos de São Luis,
navega com a bússola de Deus e o signo da iluminação poética.
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