O PAPEL DO ESCRITOR CONTEMPORÂNEO DA
AMAZÔNIA
Antes e durante esse longo
período, nada consta, se não esparsa e raramente, tenham as tribos indígenas da
Amazônia se unido e se levantado contra os invasores de seus territórios.
Nômades e livres, elas preferem se aliar ao invasor e dão a entender,
claramente, que a terra não era de ninguém. Hoje, após tantos conflitos e
divisões, quando as sociedades tribais praticamente se reduzem, se extinguem ou
se dispersam diante do avanço das
máquinas e da usura pelas jazidas de minério, as diversas Amazônias já formam,
como partes de um todo, o esboço de uma complexa mas única nacionalidade. Os
pobres se entendem. Pelo menos deveriam entender-se. Senão essa mistura de
raças que vai do tribal ao social, do social ao nacional e deste ao continental
e universal, não teria sentido histórico. Este seria mais um item que parece
merecer a nossa reflexão. Tanto mais quando fomos o cenário monumental para
onde acorreram as primeiras levas que contribuíram para a formação do Homem
Amazônico. Elas já traziam consigo o fogo e os instrumentos líticos, embora
aqui já estivessem, desde muito, as curiosas edificações e canoas
transformadoras, depois do terceiro cataclismo; os primeiros animais, peixes,
aves, e o grande mistério que nos dá notícia de uma linguagem perdida. A
linguagem que devemos perseguir.
Nada disto, senhores
escritores da Amazônia, já foi ou estará sendo feito ou decifrado. A esfinge
prossegue olhando para nós, donos que somos de um código refratário ao mergulho
e ao vôo que lhe habitam os arredores. Ainda não dispomos, sequer, de mínima
parte que seja desse belo compêndio de iniciação, em termos de linguagem. A
dimensão orgânica da Amazônia, as vísceras e os acordes de sua extensão mítica,
continuam à espera de nós, poetas, romancistas, filósofos, antropólogos,
estudiosos, contudo envolvidos nos aspectos exteriores da fábula. Falamos em
seu tamanho, em sua altura e comprimento, mas esquecemos a sua alma.
Aqui estamos, entretanto,
para sabê-la no contexto de sua totalidade. Suas dimensões primárias já parecem
delineadas. Falta-nos, assim, penetrar as suas dimensões extraordinárias, as
quais também se relacionam com o papel do escritor, como sendo o principal de
seus intérpretes.
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